Cientistas descobriram novos genes que podem fazer células adultas normais se tornarem células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs)
A técnica para criar células-tronco a partir de células adultas normais foi criada em 2006 pelo japonês Shinya Yamanaka. Dedse então, elas são as mais usadas em pesquisas científicas
Cientistas do Centro de Medicina Regenerativa, em Barcelona, desenvolveram uma nova técnica para criar células-tronco. Os pesquisadores descobriram novos genes que podem ser alterados em células adultas comuns de modo a torná-las capazes de se transformar em qualquer tipo de tecido do corpo humano. Isso pode, no futuro, ajudar no desenvolvimento da medicina regenerativa: a substituição de tecidos danificados por células criadas em laboratório.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Reprogramming of Human Fibroblasts to Pluripotency with Lineage Specifiers
Onde foi divulgada: periódico Cell Stem Cell
Quem fez: Nuria Montserrat, Juan Carlos Izpisua Belmonte; entre outros
Instituição: Centro de Medicina Regenerativa, em Barcelona, entre outras
Resultado: Os pesquisadores descobriram um novo modo de produzir células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs), que envolve a alteração de genes responsáveis pela diferenciação celular
As pesquisas mais importantes nesse campo são feitas usando as células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs), que podem ser criadas a partir de alterações no DNA de células comuns do próprio paciente, eliminando o risco de rejeição imunológica. A fórmula clássica usada para produzir essas iPSCs segue uma receita rigorosa, com poucas variações para aplicação médica. Os pesquisadores anunciaram nesta quinta-feira, na revista Cell Stem Cell, a criação de iPSCs por um novo método, aumentando a possibilidade de uso clínico da técnica.
Existem dois tipos de células-tronco: as células-tronco embrionárias, que são as células presentes nos embriões humanos, que ainda não se diferenciaram em nenhum tipo de tecido, e as iPSCs, células maduras que foram reprogramadas geneticamente para voltar a um estado semelhante ao embrionário. Desde que o pesquisador japonês Shinya Yamanaka descobriu, em 2006, a técnica para produzir iPSCs — o que lhe rendeu o Prêmio Nobel do ano passado —, a maioria dos cientistas usa esse tipo de célula em suas pesquisas.
A receita de Yamanaka leva em conta a alteração de quatro genes para reprogramar as células maduras. A nova pesquisa descreve uma nova abordagem, na qual a pluripotência pode ser induzida por meio de alterações em outros sete genes.
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Saiba mais
CÉLULAS-TRONCO
Também chamadas de células-mãe, as células-tronco podem se transformar em qualquer um dos tipos de células do corpo humano e dar origens a outros tecidos, como ossos, nervos, músculos e sangue. Dada essa versatilidade, elas vêm sendo testadas na regeneração de tecidos e órgãos.
Também chamadas de células-mãe, as células-tronco podem se transformar em qualquer um dos tipos de células do corpo humano e dar origens a outros tecidos, como ossos, nervos, músculos e sangue. Dada essa versatilidade, elas vêm sendo testadas na regeneração de tecidos e órgãos.
CÉLULA-TRONCO EMBRIONÁRIA
Formada no blastocisto, aglomerado de células que forma o feto. Por ter o ‘objetivo’ de ajudar na criação e desenvolvimento de um novo organismo, pode se diferenciar em praticamente todos os tecidos do corpo
Formada no blastocisto, aglomerado de células que forma o feto. Por ter o ‘objetivo’ de ajudar na criação e desenvolvimento de um novo organismo, pode se diferenciar em praticamente todos os tecidos do corpo
CÉLULA-TRONCO PLURIPOTENTE INDUZIDA
Célula adulta especializada que foi reprogramada geneticamente para o estágio de célula-tronco embrionária. Assim, ela pode se transformar em praticamente todos os tecido do corpo.
Célula adulta especializada que foi reprogramada geneticamente para o estágio de célula-tronco embrionária. Assim, ela pode se transformar em praticamente todos os tecido do corpo.
Genes dispensáveis — Os novos genes alterados pelos pesquisadores são aqueles responsáveis por produzir proteínas responsáveis por iniciar o processo que leva uma célula-tronco a se diferenciar para formar os vários tecidos do corpo humano. "Nós mostramos que a pluripotência pode ser um estado funcional da célula", diz Juan Carlos Izpisua Belmonte, pesquisador do Instituto Salk, nos Estados Unidos, e um dos autores do estudo.
Segundo os pesquisadores, o mais importante é que pela primeira vez um estudo com seres humanos conseguiu deixar de usar um gene dos genes utilizados na receita original de Shinya Yamanaka: o Oct4. Os outros três genes já haviam sido substituídos em pesquisa anteriores, mas o Oct 4 só havia sido substituído em ratos — o que tornava aparentemente indispensável para a reprogramação de células humanas.
Os cientistas destacam que seu trabalho deve ajudar a superar o que eles apontam como um dos maiores obstáculos para a adoção de tratamentos com células-tronco: como os quatro genes selecionados por Yamanaka poderiam estar relacionados ao câncer, a terapia poderia levar ao surgimento de tumores. Outros pesquisadores afirmam, no entanto, que esse problema já foi superado nas pesquisas mais recentes com iPSCs. De qualquer forma, o novo método pode ajudar os pesquisadores a compreenderem melhor como funciona uma célula-tronco e acelerar sua adoção em tratamentos médicos.
Opinião da especialista
Lygia da Veiga Pereira
Geneticista e diretora do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias da USP
Geneticista e diretora do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias da USP
“A pesquisa é apresenta mais uma técnica para reprogramar as células humanas. Já existiam outros caminhos diferentes do criado por Shinya Yamanaka para produzir as iPSCs, mas até hoje nenhum havia conseguido reprogramar as células sem usar o Oct4. Com certeza, novas pesquisa serão feitas para descobrir se essas novas células apresentam alguma vantagem.
“Os pesquisadores afirmam também que sua linha de células-tronco pode ser melhor que as outras por não mexer em genes causadores de câncer. Isso me parece um exagero. Essa era uma limitação importante no uso das iPSCs quando ainda não conseguíamos produzir essas células sem fazer os novos genes se integrarem ao DNA. Hoje já existem técnicas em que o gene não é inserido e, por isso, não pode dar início ao câncer.”
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